ANAIS

Prof. Dr. phil. Antonio Alexandre Bispo

História da Música nos Estados Unidos

Estudos Culturais e Musicologia



CURSO 

SEMINÁRIO DE MUSICOLOGIA E SOUND STUDIES

UNIVERSIDADE FRIEDRICH-WILHELM DE BONN

2003


in memoriam Guiomar Novaes (1894-1979)


20 anos de conferência na Catholic University of America, Washington D.C. (1983)

em sequência a colóquios nas universidades Stanford, California/Berkeley, San Francisco (2000)



em sequência a colóquios nas universidades dos EUA

Stanford, California Sta. Barbara/Berkeley, San Francisco (2000)




HIstória da Música dos EUA foi tema de curso constante de aulas expositivas (Vorlesung) em 2003 na Universidade Friedrich-Wlhelm em Bonn. O curso foi realizado a partir de recomendações de musicólogos norte-americanos, salientando-se Robert Stevenson, e preparado em estudos e colóquios  conduzidos nas universidades de Stanford e Berkeley, Califórnia.



A necessidade de uma visão global do continente foi destacada em reuniões, como a reunião regional do projeto Música na Vida do Homem/Uma História Mundial da Música na Cidade do México (1985) e em São Paulo (1987) com representantes do Norte Universidades americanas como North Texas University e no congresso internacional sobre os 500 anos da descoberta da América no Rio de Janeiro em 1992 com representantes da Universidade da Califórnia.


O trabalho foi desenvolvido em cooperação com investigadores musicais de diversas instituições dos EUA, incluindo a Universidade do Norte do Texas, a Universidade Católica de Washington e a Universidade do Sul da Califórnia. Eles foram acompanhados por visitas, entre outras, à City University of New York, à Harvard University em Boston, bem como às universidades de Berkeley e Stanford.


Esses encontros pretenderam reintensificar elos entre a Alemanha, os Estados Unidos e o Brasil com musicólogos norte-americanos após 20 anos de simpósio levado a efeito na Catholic University of America em Washinton D.C.  O curso compreendeu-se como uma homenagem a Guiomar Novaes (1894-1979), a pianista brasileira que como poucous outros artistas estabeleceu relações estreitas com a vida musical norte-americana por décadas. No âmbito do curso, organiozou-se uma exposoição de documentos de sua vida e trajetória artística, acompanha por conferências sobre os contextos político-culturais em que se inseriu e as instituições com as quais esteve vinculada, com especial consideração dos musicólogos da sua rêde de contatos.


Atualidade


O ataque ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, causou consternação em todo o mundo. Nova York tornou-se o foco das considerações. A natureza altamente simbólica do ato parecia o fim de uma era, um ponto de viragem na história, não só da América, mas do Ocidente, se não do mundo. Este choque e esta dúvida encorajaram reflexões sobre o papel de liderança desempenhado pelos Estados Unidos como uma potência líder em todas as esferas da vida, como em todos os aspectos a Europa está ligada à América do Norte e que consequências teria o fim deste equilíbrio de poder. Apesar de todas as diferenças e posições opostas - pró e antiamericanas - o trágico acontecimento suscitou análises na imprensa, discussões nos meios de comunicação e nas universidades. Trabalhadores culturais, artistas e músicos lidaram com o ataque terrorista e as suas vítimas e consequências. Foi processado musicalmente em composições e por cantores e conjuntos de música popular em gravações e concertos.


Essa discussão também motivou a realização de curso sobre a música dos EUA. Não se tratou principalmente de uma expressão de simpatia recorrendo a temas americanos no ensino e na pesquisa, de uma visão geral da história musical da América, de recordar figuras, eventos e desenvolvimentos que ligaram estreitamente a Europa e o continente americano ao longo dos séculos em que a música desempenhou um papel importante. 


Focalizou-se sobretudo modos de pensar, abordagens, orientações num tempo de consciências abaladas, questionamentos sobre se e como as torres desabadas poderiam ser interpretadas como um sinal, como um marco nos desenvolvimentos e nas interconexões. O objetivo era explorar se e como os americanos, na ipesquisa musical, bem como em todas as outras áreas do conhecimento e da ciência, interpretaram este ataque como um sinal de que provocaria mudanças de posições e perspectiva. 


Dada a estreita interligação das relações e o papel de liderança dos EUA em muitas áreas da pesquisamusical, surgiu a questão de saber se um ponto de viragem na musicologia também pode ser notado principalmente a partir da posição dos próprios pesquisadores musicais norte-americanos. A sua perspectiva sobre o desenvolvimento dos estudos até à data nas suas diversas áreas temáticas e de época e a sua situação no presente deveria ser o foco das atenções.


Significado


A história da música dos EUA relaciona-se estreitamente com a da Europa. Essas relações explicam-se pela inserção de desenvolvimentos em processos transatlânticos através dos séculos. O estudo dessas relações exigem porém a consideração das diferenças decorrentes de contextos e de interações com processos continentais. A atenção dirige-se primordialmente àqueles desenvolvimentos desencadeados pela colonização, pelas emigrações, pelas extensões de movimentos religiosos e atividades missionárias, dos confrontos com populações indígenas, da triangulação entre a América, Europa e África no tráfico de escravos, pela expansão agrícola, pela tomada e exploração de territórios. 


O estudo de relações entre a Europa e a América do Norte não pode porém limitar-se àquelas anteriores à Independência. Elas mantiveram-se vigentes, ainda que com outras características, em décadas que se seguiram. As relações se caracterizaram por alternâncias de direcionamentos e reciprocidades. No século XIX, músicos e compositores americanos estudaram na Europa e personalidades musicais notáveis emigraram do Velho Mundo ou tiveram que deixá-lo, criando um novo campo de vida e atividades no Novo Mundo. Em decorrências que se intensificaram no século XX, correntes musicais originadas ou cristalizadas nos EUA espalharam-se de lá para a Europa e outras partes do globo. A vida musical de vários países não pode ser estudada sem a consideração de impulsos americanos e dos seus respectivos contextos. Na música popular, o papel exercido pelos Estados Unidos é evidente, não podendo ser questionado. Basta que se pense no jazz, rock e nos „musicals“..


A música dos EUA determinou o estilo de vida de gerações. Cruzar fronteiras entre arte e música popular, valorizar o entretenimento, a alegria de viver e a diversão associam-se com a música dos EUA. Essa diluição de delimitações de esferas corresponde à orientação teórica que reconhece os problemas decorrentes de categorizações de esferas nos seus diferentes entidos, fazendo com que a consideração dos EUA adquira particular significado numa Musicologia orientada segundo processos  em contextos globais.


Esse extraordinário desenvolvimento dos estudos e pesquisas surge como uma expressão de características que se associam com os EUA e que foram discutidas no Fórum de Música Alemanha/EUA em 1983, tais como energia, livre desenvolvimento do indivíduo, e espírito empreendedor. Personalidades individuais, clubes e universidades tornaram possíveis projetos de grande porte. 


Considerações metodológicas


Na sua orientação teórica, o curso foi marcado por perspectivas dirigidas a processos ultrapassadores de fronteiras, interno-americanas, interamericanas, transatlânticas e transpacíficas. Retomou-se assim reflexões e debates que marcaram Fórum de Música Alemanha/EUA realizado em 1983 quando se tratou de processos transatlânticos com aqueles continentais. Uma particular atenção foi sobretudo dedicada ao Panamericanismo.


Essa abordagem dirigida á análise de processos culturais e sua interações correspondeu àquele do projeto de desenvolvimento de uma musicologia orientada segundo processos e de estudos culturais de condução musicológica desenvolvido na Europa desde 1974. O direcionamento da atenção a processos é resultado do reconhecimento, já na década de 1960 no Brasil, da necessidade de superação de modos de ver e proceder a partir de categorizações de objeto, de áreas e esferas, como aquelas entre música erudita/clássica, popular e folclórica. Também o curso não se limitou à consideração de esferas assim construídas, sendo fundamentalmente inter-disciplinar, tratando de resultados de estudos conduzidos tanto em decorrências temporais a partir de fontes históricas como da pesquisa empírica. 


A preocupação por conceituações e pela metodologia marcou o desenvolvimento do pensamento em introduções do curso e dos vários complexos temáticos tratados. Discutidos foram problemas concernentes à relações entre procedimentos históricos, etnológicos e aqueles marcados por tendências mais recentes dos Cultural Studies, de estudos de arquivos e fontes, entre tradições orais e escritas, da questões terminológicas evidenciadas em adjetivações como música clássica, popular, folclórica, primitiva, tribal, étnica e outras, bem como aquelas referentes a procedimentos descritivos e prescritivos na etnomusicologia. Procurou-se considerar tendências do pensamento e abordagens de pesquisadores norte-americanos que também se preocuparam ou se preocupam com mudanças de paradigmas na consideração da música nos EUA e nas Américas em geral. Salientou-se que a atenção dirigida a processos e suas interações implica numa fundamental crítica à acepção de „Três tradições continentais“. 


Musicologia nos EUA e na Europa


O significado da pesquisa musical e de suas instituições nos EUA não pode ser esquecido, uma vez que também determinam desenvolvimentos da Musicologia no seu todo em âmbiro internacional. Existem há muito estreitas relações entre os EUA e a Europa nos estudos musicológicos. Impulsos vindos de pesquisadores e instituições americanas marcaram desenvolvimentos sob diversos aspectos, o que deve ser considerado a partir de interações intercontinentais. Vários pesquisadores musicais na América têm um passado europeu, estudaram na Europa ou foram marcados pelo estudo de publicações de musicólogos europeus. 


Por outro lado, instituições e universidades americanas tornaram-se condutoras em diferentes sentidos, tendo-se nelas  desenvolvido projetos de fundamental importância para estudos histórico-musicais referentes à própria Europa ou ao Ocidente em geral. Edições de obras do passado europeu, tornaram-se fontes indispensáveis para os estudos musicológicos e abriraram novas perspectivas.  Edições completas, monografias e revistas especializadas não dizem respeito apenas à música nos EUA, adquirindo significado para o desenvolvimento da musicologia nas suas amplas dimensões.


Vários dos pesquisadores musicais associados à American Musicological Society, fundada em 1934, realizaram estudos fundamentais não só para a história musical da América mas também, e especialmente, para o estudo da Idade Média e do Renascimento. As suas publicações sobre música antiga anteriores à descoberta da América ou à independência dos Estados Unidos são importantes para a investigação musical através de fronteiras e continentes. Entre os destacados pesquisadores musicais, destacam-se personalidades como C. Engel, G. Reese, H. Roberts, J. Schillinger, Ch. Seeger, H. Spivacke, O. Strunk e O. Kinkeldey. Os motivos condutores  do seu pensamento – como os já estudados por Charles Seeger – também se tornaram modelos para outros países do continente. Desde 1948, o Journal of the American Musicological Society tem sido um órgão indispensável para a troca de informações sobre o desenvolvimento da pesquisa musical nos países europeus e latino-americanos.  


O Instituto Americano de Musicologia, fundado em 1944 com A. Carapetyan como figura de destaque, forneceu à história musical monumentos que moldaram profundamente a vida e a pesquisa musical, como o Corpus Mensurabilis Musicae, o Corpus Scriptorum de Musica, o Corpus of Early Keyboard Music, os Estudos de Manuscritos Renascentistas, os Estudos e Documentos Musicológicos, o anuário Musica disciplina ou a Revista de Música Renascentista e Barroca. Os arquivos e as bibliotecas nos EUA, especialmente a Divisão de Música da Biblioteca do Congresso/Washington DC, com o seu extenso acervo estão entre os mais importantes centros de recolha e preservação de fontes em todo o mundo. 


As realizações dos pesquisadores e instituições norte-americanas são indispensáveis não só para o estudo da história da música em geral, como stambém para estudos da música folclórica tradicional e da música não-europeia. O Archive of Folksong and Folkways Records, que existe desde 1928, o Archive of American Folk-Song e outras instituições para a coleta e estudo de documentos sonoros, como o Archive of Traditional Music da Indiana University, Bloomington, tornaram-se exemplos de muitos outros países. 


O desenvolvimento dos interesses de pesquisa nas universidades americanas pode ser rastreado nas listas de artigos acadêmicos, como os publicados desde 1952 por C.D. Adkins editou Dissertações de Doutorado em Musicologia. Pode-se lembrar de uma lista seletiva de teses de mestrado em musicologia apresentados desde 1970 de De Lerma e o Índice Internacional de Dissertações, publicado desde 1977.


Para um curso de nível superior em instituto de musicologia na Alemanha, um mero panorama geral da música nos EUA não é suficiente. A atenção deve ser dirigida a questões teóricas, partindo-se da constatação das diferentes posições, visões, avaliações e expectativas de pesquisadores norte-americanos para, a seguir, encetar reflexões.


O interesse em considerar posições, abordagens e novas tendências na  pesquisa nos Estados Unidos não é novo. Nas últimas décadas, ocorreu uma intensa troca de ideias sobre questões teóricas e temáticas com vários pesquisadores musicais americanos, principalmente com aqueles que se dedicaram à música da América Latina, como Robert Stevenson, Barry Brook e Gerard Béhague. Foram visitadas diversas instituições dos EUA, incluindo a Fundação Smithsonian e as universidades de Washington, Harvard, Stanford, Berkeley e Nova York. 


A Etnomusicologia nos EUA e na Europa


O papel de liderança da América pode ser reconhecido na etnomusicologia quase mais do que na história da música. A Sociedade de Etnomusicologia, fundada em 1955, marcou caminhos. Influentes etnomusicólogos norte-americanos desenvolveram abordagens, enfoques, focos e procedimentos que mudaram profundamente as visões e até levaram a reorientações na pesquisa institucionalizada.


A etnomusicologia baseada no modelo americano foi vista por muitos como uma substituição da musicologia comparativa. Nas décadas de 1960 e 1970, tornou-se o epítome de um campo de pesquisa progressista, aberto, inteligente e contemporâneo que foi imitado em muitos países, tornando-se por assim dizer, moda. Alguns de seus representantes ssalientaram-se por atitutes de superioridade, o que também levou à superestimação. A etnomusicologia, que também em institutos da Alemanha substituiu a musicologia comparada, tornou-se em muitos contextos subserviente à América, imitando-se práticas das universidades norte-americanas. Em universidades como Colônia, por exemplo, foram fundados conjuntos de música tradicional japonesa e chinesa e orquestras de gamelão balinesas, e estudantes alemães passaram a aprender a tocar o koto. 


A história desta difusão, que inclui também uma americanização dos modos de pensar, bem como as suas consequências também precisariam ser analisadas mais detalhadamente à distância de várias décadas para o estudo das redes na ciência. Muitas coisas surgem como singulares a esta distância. Apesar do entusiasmo que acompanhou a introdução da etnomusicologia recebida e dos resultados de longo alcance que emergiram desses impulsos, há muito que são reconhecidos problemas com os seus fundamentos teóricos, o que exigem novas orientações.


Tentativas de questionamento, de reflexões quanto as formas de pensar e práticas recebidas na etnomusicologia americana, apesar de todas as oposições, está gradualmente abrindo espaço para novas perspectivas. Estas, porém, nem sempre são cuidadosamente refletidas, levando a novas adoções de formas de pensamento e procedimentos. Uma renovação de perspectivas apenas pode ser esperada em estreita colaboração com pesquisadores nos Estados Unidos que se voltam a questões que se colocam em era da globalização.  Centros de pesquisa norte-americanornecem oferecem impulsos teóricos para isso, como o Centro de Estudos Visuais Avançados do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).


Aspectos e focos de atenção


Sob o aspecto histórico, essa orientação do curso lembrou-se dos questionamentos relacionados com a periodização histórica, já tratada há muito em contextos latino-americanos, em particular brasileiros. Especial consideração foi concedida a questões referentes à documentação histórica e à arquivologia. O problema de fontes - como também em outros contextos continentais - foi tratado sobretudo relativamente ao estudo dos primeiros séculos após a chegada dos europeus à época das descobertas e do início de processos coloniais. 


Um dos aspectos salientados foi aquele discutido no campo de estudos hinológicos, o da difusão de cantos religiosos, especialmente salmódicos - no contexto da Reforma, mas também da Contra-Reforma nas missões. Entre outros aspectos desses estudos hinológicos, tratou-se das origens e desenvolvimentos dos salmos métricos e diferenças quanto a melodias constatadas nem fontes européias e coloniais.


Relativamente ao século XVIII, considerou-se as visões e interpretações de pesquisadores norte-americanos que focalizam sobretudo a recepção de concepções e de prática, de conhecimentos teórico-musicais e do papel da música no ensino e na produção musical. Considerados foram estudos referentes à música em grupos religiosos, à música na esfera secular e, sobretudo, à recepção de correntes do Barroco e aqueles consideradas como pré-clássicas.


No que diz respeito à transição ao XIX, as perspectivas dos pesquisadores americanos foram examinadas em estudos sobre a presença de músicos profissionais europeus, da música considerada como clássica na América, salioentando-se entre as personalidades de músicos, a de Anthony Ph. Heinrich. Na consideração do século do Romantismo foi dada especial atenção ao papel desempenhado pelos virtuoses em processos culturais nas suas dimensões transcontinentais e transamericanas, salientando-ss Louis Moreau Gottschalk. Igualmente tratou-se do papel de cantores e companhias de ópera viajantes, assim como o da difusão e cultivo de composições e correntes estilísticas da França e da Itália. 


Um dos processos que exigiram mais reflexões foi o da gênese e desenvolvimento de intentos de criação musical com características adequadas ao contexto americano como expressões do despertar de uma consciência americana a partir de visões e interpretações de pesquisadores norte-americanos. Com base na literatura, foram encetadas reflexões sobre a história da música acadêmica e da música germano-americana, assim como sobre os classicistas Boston. As publicações sobre a história da recepção – entre outras de Liszt e Wagner na América – foram consideradas retomando-se aqui estudos desenvolvidos por ocasião do centenário dos festivais de Bayreuth em 1976 referentes às extensões supranacionais do Wagnerianismo e da Neudeutsche Schule e da música de programa.


Posições e perspectivas americanas referentes ao papel a ser exercido por tradições indígenas e pelo folclore na criação musical também foram consideradas em cotejos com outros contextos do continente e nas suas relações com correntes do pensamento e estéticas da Europa. Esses estudos exigiram não apenas a consideração da extensa literatura dedicada a essas questões, como também reflexões e análises a partir de gravações.


Os estudos sobre a história das relações musicais franco-americanas, sobre Charles nas suas relações com correntes filosóficas exigiram retomaram estudos conduzidos no Brasil e, na Europa, em seminário sobre Charles Ives em Colónia onduzido no Instituto de Musicologia de Colonia na década de 1970. Entre os aspectos bordados no tratamento do século XX, considerouöse a historiografia do Novo Americanismo, as tendências populares da música nos Estados Unidos e o estudo da música politizada das décadas de 1930 e 1940 (“a arte como arma“).


A história da recepção da música dodecafônica na visão dos pesquisadores norte-americanos, assim como o papel exercido por pensadores e compositores europeus emigrados durante o regime nacionalsocialista foi tratado em correspondência à abordagem dirigida a processos em contextos globais. No que diz respeito à música do passado recente, foram examinadas correntes de pensamento sobre o aleatorismo, a música eletrónica e as aspirações místico-orientais, também e sobretudo nas suas extensões no continente, na Europa e mesmo em outras regiões do globo.


Interamericanismo e transatlantismo


Não são recentes intenções de intensificação de elos entre EUA e os  países latino-americanos em todas as áreas. A música e os projetos musicais também desempenharam um papel importante e.o. na Organização dos Estados Americanos. Durante décadas, os músicos latino-americanos encontraram um campo de atividade mais amplo nos EUA do que na Europa. Músicos, pianistas, compositores e maestros de destaque da América do Sul e Central fizeram carreira em centros americanos, trouxeram inspiração para a vida musical de seus países e permaneceram conectados à América do Norte ao longo de suas vidas. Um dos mais importantes exempkos dessa participação de músicos latino-americanos na vida musical dos EUA é a pianista brasileira Guiomar Novaes. 


Entre as iniciativas de promoção do interamericanismo, deve-se considerar o Instituto Interamericano de Musicologia em Montevidéu que, desde a década de 1930, manteve relações estreitas com os centros de música e pesquisa musical dos EUA. Nas universidades americanas surgiram departamentos para o estudo da música latino-americana e publicaram-se livros e periódicos que consideraram todo o continente, omo o Latin America Music Review da Universidade do Texas em Austin. Estudos pioneiros em muitos aspectos sobre a música da América de língua espanhola e do Caribe partiram da Califórnia. A Inter-American Music Review é um dos periódicos mais importantes para a pesquisa musical no continente.


Nova Musicologia e Musicologia Cultural


A preocupação de ver a história da música da América na sua dimensão transcontinental a partir das posições e perspectivas de pesquisadores musicais que trabalham em instituições nos Estados Unidos favoreceu a atenção de pesquisadores europeu aos projetos e tendências atuais, incluindo aqui a abordagem, que é chamada de nova musicologia. N


O foco nos processos requer um pensamento dirigido ao transpasse de delimitações, tornando permeáveis separações de esferas. O que se designa como “musicologia cultural”, já foi elabora e de forma muito mais diferenciada no Brasil na década de 1960. A orientação teórica dirigida a processos que transpassam delimitações dirige a atenção também a interações entre o transatlantismo e o interamericanismo, como já defendido em 1983 no Forum de Música Alemanha/USA, com a participação do Instituto Interamericano de Musicologia e instituições dos EUA na Alemanha. Esta abordagem é particularmente importante para ver música nos EUA, uma vez que o país está a passar por mudanças culturais significativas em termos de música e vida musical devido ao aumento da imigração latino-americana.



Cronologia de estudos


2000. Colóquios em Berkeley, California

1999. Refletindo sobre a Ideia Transcendental e a Música Americana do Século XX. Século, Paul Terse. Congresso Internacional Música e Visões. Deutsche Welle. Academia Brasil-Eropa/ISMPS

1999. Estudos e reuniões nos EUA

1992. Congresso pelos 500 anos da descoberta da América. Conferência de Robert Stevenson na abertura. II Congresso Brasileiro de Musicologia. Estreia de obras de Paul Terse. Sociedade Brasileira de Musicologia. ISMPS. Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre outros

1987. Música na Vida do Homem sob a direção Barry S. Brook. Reunião regional para América Latina e Caribe. Conselho Internacional de Música/UNESCO. São Paulo

1987. I. Congresso Brasileiro de Musicologia. Discussões com Gerard Béhague. Governo do Estado de São Paulo. Sociedade Brasileira de Musicologia. ISMPS. UNESCO, entre outros

1985. Música na Vida do Homem sob a direção de Barry S. Brook. Reunião regional para América Latina e Caribe. Conselho Internacional de Música/UNESCO. Cidade do México

1984. Diálogos com Robert Stevenson, Santa Bárbara LA. Instituto de Estudos Hinológicos e Etnomusicológicos. Preparação para a criação do Instituto de Estudo da Cultura Musical no Mundo de Língua Portuguesa (ISMPS)

1983. Simpósio Internacional. A Universidade Católica da América.

1983. 300 anos de emigração alemã para a América. Estudos de arquivo sobre alemães em St. Arquivos da cidade de Leichlingen 

1983. Fórum de Música Alemanha-USA  Embaixada dos EUA. American School Bonn, Escola de Música na cidade de Leichlingen

1981. Colaborações com Dr. F. Robert Overton. Musikschule der Stadt Leichlingen

1979. Colaborações com Gerard Béhague

1977. Colaborações com Bruno Nettl. Instituto de Estudos Hinológicos e Etnomusicológicos. Maria Laach

1977. Colaborações com Robert Skeris. Church Music Association of America

1976. Charles Ives na Musicologia. Universidade de Colônia

1972-74. Unidades da área de Etnomusicologia: Bruno Nettl, Alain Merrian e outros etnomusicólogos dos EUA. Faculdade de Música e Educação Artística do Instituto de Música de São Paulo. São Paulo

1971-73. Os Estados Unidos na Música do Século XX. Com particular referência a Gilbert Chase e Aaron Copland. Centro de Pesquisa Musicológica (ND)

1971. Música eletrônica nos EUA. Alumni. Yazigi. São Paulo

1970. Colóquios com Marilyn Mason. Cursos Internacionais de Música de Curitba, Festival de Música do Paraná. Curitiba

1969. John Cage, Performances e Debate. Paulo Afonso de Moura Ferreira. Universidade de Música Sta. Marcelina. Centro de Pesquisas em Musicologia (ND)

1968-John Cage. Apresentações e debates. Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Centro de Pesquisas em Musicologia (ND)




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